Aumenta exigência de nível superior em concursos públicos.

A busca de melhor qualificação na mão-de-obra, com exigências como cursos de graduação, mestrado e doutorado, não se restringe apenas à iniciativa privada. Essa tendência também se verifica nos concursos públicos – cargos que antes exigiam escolaridade de nível médio (antigo segundo grau), como técnico da Receita e agente da Polícia Federal, passaram a exigir […]


A busca de melhor qualificação na mão-de-obra, com exigências como cursos de graduação, mestrado e doutorado, não se restringe apenas à iniciativa privada. Essa tendência também se verifica nos concursos públicos – cargos que antes exigiam escolaridade de nível médio (antigo segundo grau), como técnico da Receita e agente da Polícia Federal, passaram a exigir formação superior. Especialistas dizem que, além do afunilamento para cargos de nível superior, a mudança na exigência pode também causar desmotivação em selecionados com bacharelado se eles desempenharem funções que seriam mais adequadas para candidatos de escolaridade mais baixa. Os órgãos públicos justificam que, ao elevar o nível de exigência, melhora-se a qualificação dos funcionários e, conseqüentemente, os serviços prestados à sociedade. Já os funcionários que assumiram o cargo quando a exigência era de nível médio acabam beneficiados com todos os aumentos e gratificações que a mudança de escolaridade traz às carreiras. Mas Wilson Granjeiro, professor de direito administrativo e diretor financeiro-pedagógico do curso preparatório Obcursos, salienta que essa tendência pode causar o efeito contrário. “Quem tem nível superior vai se sentir desmotivado para exercer funções abaixo da sua capacidade, não vai se ajustar e poderá deixar o cargo rapidamente”, comenta. Para ele, a medida discrimina pessoas de nível médio que têm talento para o cargo e desmotiva bacharéis que têm vocação para exercer funções que exigem maior conhecimento intelectual. Ele considera um exagero, por exemplo, exigir nível superior para o cargo de policial militar no Distrito Federal. “Está previsto um concurso para este ano e já virá com a exigência”, afirmou. Segundo Granjeiro, a tendência em mudar o nível de escolaridade está levando mais alunos com nível superior ou ainda na universidade para os cursinhos preparatórios. Nas unidades do Obcursos, atualmente, 60% dos alunos estão estudando ou já concluíram a graduação. Há dez anos, o número era de 20%, e os de nível médio eram 60%. “Houve uma inversão”, diz. Jorge Pinho, professor do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), acha que a tendência é decorrência da oferta cada vez maior de mão-de-obra em detrimento da pouca oferta de emprego. “Se você eleva os requisitos de seleção coloca um funcionário melhor qualificado. Mas uma pessoa com nível superior, ao exercer função de nível médio, pode se sentir pouco prestigiada pelas tarefas que exerce porque ela tem um status intelectual que quer colocar em prática”, diz. Ele aponta que muitos candidatos de nível superior preferem disputar cargos de nível médio por acharem que as chances de serem aprovados são maiores. “Mas os cargos de nível médio são muito mais concorridos”, afirma. “É o mesmo risco que se corre ao exigir nível superior para funções que não precisam dessa formação”. Para Pinho, o nível médio é encarado atualmente apenas como caminho para chegar à universidade. Com a exigência cada vez mais específica para os cargos, a tendência é que os concursos passem a colocar vagas para candidatos com cursos técnicos e com nível superior, abolindo o chamado nível médio universal. “O Programa de Aceleração do Crescimento é uma amostra disso. Muitos cargos serão criados, até 2010, de nível técnico e superior”. O presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, João Domingos Gomes dos Santos, diz que o sindicato é favorável à tendência de exigir cada vez mais qualificação dos candidatos a cargos no setor público. “Somos a favor porque busca-se o serviço público de qualidade, e a qualificação profissional já começa pela formação didática. Para isso, é necessária a elevação do nível profissional a partir do nível de escolaridade.” Ele ressalta, no entanto, que, além do diploma, o candidato deve ter treinamento técnico profissional específico para exercer o cargo e atender às exigências do serviço público. (G1)

Fonte: Portal Aprendiz